A universidade existe para
produzir conhecimento, gerar pensamento crítico, organizar e articular os
saberes, formar cidadãos, profissionais e lideranças intelectuais. O
desempenho dessas nobres e decisivas funções, porém, não é algo que se
resolva no plano abstrato. Do mesmo modo que as demais instituições, a
universidade está sempre historicamente determinada. Pode funcionar bem ou
mal, cumprir com maior ou menor efetividade suas atribuições, ser mais ou
menos admirada e respeitada. Ela não é perfeita nem inquestionável. Não está
acima da sociedade nem desconectada dela. As próprias circunstâncias
internas da instituição - seu corpo docente, sua estrutura administrativa,
seus dirigentes, estatutos e tradições - incidem sobre sua imagem e seu
desempenho. Em certa medida, cada época,
cada sociedade e cada Estado tem a universidade que pode ter, por mais que a
instituição universitária, por sua própria natureza, tenha luz própria e
possa, justamente por isso, operar com alguma liberdade em relação às
circunstâncias histórico-sociais que estão em sua base. Não se trata de
dependência ou limitação, mas de determinação. Sua riqueza social,
política,cultural e seu acervo histórico produzido ao longo dos anos pelos
que a fazem e fizeram deve ser preservado e mantido como seu patrimônio.
Além do mais, a universidade é
uma decisiva referência do Estado (comunidade política) e vincula-se ao
Estado (aparato administrativo e de governo). No primeiro caso, recebe uma
atribuição ética, educacional e política; no segundo, muitas incumbências e
algumas restrições. Precisa ser livre, laica e autônoma para respirar e
cumprir seu papel, ao mesmo tempo em que tem de se viabilizar como
organização, ou seja, cuidar de si própria, administrando corretamente os
recursos de que dispõe ou que recebe do poder público. Com isto, obriga-se a
obedecer a determinados parâmetros legais, seguir diretrizes gerais de
educação e acompanhar orientações governamentais, bem como a reproduzir
determinadas exigências técnicas e operacionais, comuns a todas as
organizações complexas.
Inevitável, portanto, que a
universidade reflita em si, com uma dose adicional de dramaticidade, todas
as características, vantagens e adversidades da época histórica e das
sociedades concretas em que está inserida. Tanto quanto as demais
organizações, ela está hoje em ebulição, num momento de transição e
arrumação, no qual as partes se unem com dificuldade, concebem-se a si
mesmas com bastante imprecisão e vivem à procura de uma nova e melhor
inserção social. Similarmente às demais organizações, a universidade flutua
em um estado de sofrimento, que seguramente não a inviabiliza, mas que a
desafia abertamente.